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É saúde!

Lembro de um ciclo de debates em Itu, sobre violência de torcidas, para onde fui levado pelo repórter e amigo Eduardo Affonso, em 1999. Meses antes do nascimento de meu filho, o assunto derivou para o que o futebol pode nos ensinar. Como o tema era o combate aos vândalos, o discurso que me parecia meio surrado tratava de que pouca coisa se aprende nas arquibancadas. Discordei veementemente: “Quando eu tiver um filho, quero que goste de futebol e frequente estádios. O futebol nos ensina a ganhar e a perder e é tudo o que fazemos todo o tempo na vida.”

João Pedro já vai fazer 20 anos, a Bruna tem 16, e ambos frequentam estádios. Assim, no plural, não só para ver o time deles. Aprendi com eles como é legal ir à rua Javari para comer cannoli e assistir ao Juventus. Diga-se, foi para ver o Juventus contra a Portuguesa que meu avô Alexandrino me levou pela primeira vez a um estádio, o Canindé, ainda com suas escadas de madeira, em 1975.

O futebol ensina o valor da vitória e a dor da derrota, a quem tem a sabedoria de entender que, na vida, ganhamos e perdemos. Tem o dia de comemorar e o de parabenizar.

Mas chegamos a um tempo em que programas de televisão dizem que não é normal seu clube perder, discute-se o treinador que entende um resultado no contexto de um campeonato e explica que isto não significa passividade na derrota. Como disse Jorge Jesus, depois de sofrer o gol de empate do Grêmio, em Porto Alegre. “Temos de aceitar os fatos.”

Acontece que, por ouvir comentários na TV ou simplesmente por radicalismo, supostos torcedores agora arvoram-se no direito de invadir centros de treinamento, saguões de hotéis e aeroportos, xingar ou agredir familiares em estádios e nas ruas. Há duas semanas, um grupo de torcedores do Botafogo cercou a família do técnico Marcão, do Fluminense, no estacionamento do estádio Nílton Santos. Há dois dias, a esposa do volante Bruno Henrique, do Palmeiras, foi agredida na Arena da Baixada.

Há quarenta dias, o casal já havia sido hostilizado por um torcedor na saída de casa, passeando com o cachorro.

Com todo o respeito a quem pense diferente, não é possível defender que pessoas livres tenham de ficar em casa, longe do estádio ou de caminhar na calçada em frente à sua residência, apenas porque os resultados de seu time, ou do time de seu marido, não estão ajudando.

Futebol é ganhar e perder. A vida como ela é.

Neste ano, dos maiores clubes do país, já houve invasões a centros de treinamento, saguões de aeroportos e hotéis ou manifestações com frases violentas contra jogadores de Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Palmeiras, Santos, Corinthians, São Paulo, Atlético Mineiro, Cruzeiro e Internacional. As exceções parecem ser o Grêmio, o Athletico Paranaense e o Bahia.

Se o futebol ensina a ganhar e a perder, a intolerância mostra ser a grande derrota da sociedade.

Estamos todos perdendo de goleada.

Fonte: PVC

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